Muito se sabe sobre o dr. Frankenstein e sua Criatura; na cultura contemporânea, a imagem do ser concebido a partir de restos mortais e o nome do cientista que o criou tornaram-se mais populares do que sua autora: Mary Shelley, aquela que deu vida ao monstro, porém, existem mais obras cujo cunho sobrenatural, beirando o medonho, se destacam; histórias que exploram a vida eterna, troca de corpos e a preservação de um ser vivo após a morte. Durante muitos anos, Mary Shelley publicou contos em periódicos e, muito além do gótico, “O autor de Frankenstein” – como assinava algumas publicações – escreveu também narrativas históricas, cuja extrema paixão destaca-se em seus personagens, contos de amor, de luto, obras que refletem suas próprias experiências, sua solidão, medos, arrependimentos e dolorosas perdas.
Extremamente bem versada no mundo literário, Mary Shelley foi escritora, editora, tradutora, filha de dois nomes expoentes da literatura do século XVIII e XIX – William Godwin e Mary Wollstonecraft – casada com o poeta Percy Bysshe Shelley e a maior detentora de sua memória; Mary Shelley foi mãe, esposa, mulher de má fama na sociedade inglesa e celebrada pelo mundo. Nós da Cartola Editora convidamos o leitor a conhecer: Mary Shelley, além da Criatura , uma coleção de contos completos, abrangendo o período de 1819 a 1839.
São mais de vinte contos e dois ensaios, a maioria deles publicados na revista The Keepsake e também em outros periódicos, alguns, mais raros, reunidos em coleções que chegaram ao público apenas após sua morte. O leitor poderá conhecer o fascinante trabalho desta escritora tão enigmática, cujas histórias e cenários fazem parte da imaginação contemporânea, não apenas ficando frente a frente com seus monstros, mas também conhecendo seus desejos, paixões e tormentos, que permaneceram obscurecidos do grande público até agora. A maior parte desse livro é inédita em português e nunca foi publicada no Brasil em qualquer outro idioma.
São os títulos:
- Valerius, o romano reanimado
- Um conto das paixões; ou, a morte de Despina
- A noiva da itália moderna
- Sobre fantasmas (um ensaio)
- Roger Dodsworth, o inglês reanimado (um ensaio)
- O herdeiro de Mondolfo
- As irmãs de Albano
- Irmão e irmã, uma história Italiana
- Ferdinando Eboli
- O luto
- A falsa rima
- Transformação
- O mau-olhado
- A camponesa suíça
- O sonho
- A garota invisível
- O contrabandista e sua família
- O mortal imortal
- A prova de amor
- O primogênito
- A nova rica
- Os peregrinos
- Euphrasia
O bom entusiasta do trabalho de Mary Shelley pode questionar a ausência de três títulos que aparecem na maioria de suas obras completas em outros países, um deles é o conto “ The Pole ”, ou “O polonês” que apesar de ter sido publicado na revista The Court Magazine em 1832 e The English Annual (1836) como pelo “Autor de Frankenstein”, na verdade foi escrito pela meia-irmã de Mary Shelley, Claire Clairmont, como coloca Charles E. Robinson nas notas de sua coletânea: Mary Shelley, Collected Tales and Stories de 1976, e apenas editado pela primeira. Um outro título que preferimos excluir foi o ensaio “Recollections of Italy” ou “Recordações da Itália” publicado anonimamente na London Magazine em 1824, que, também como argumenta Robinson, disserta sobre as recordações da própria autora e seu marido, Percy Shelley, sobre a Itália. E por último, decidimos não traduzir o fragmento “An Eighteenth Century Tale” ou “Um conto do século dezoito”, escrito antes de 1824, por conter apenas a introdução de uma narrativa inacabada.